sábado, 8 de abril de 2017

Resenha Precisamos falar sobre o Kevin - Lionel Shriver

Vamos falar sobre o Kevin? O título parece ser bem interessante, precisamos falar sobre ele, eu e você, ele fez algo? Ele aprontou? Mau comportamento? Ele tem ido mal na escola? Ele precisa de limites?
Na minha primeira interpre-tação sobre o título deduzi que a mãe precisava falar sobre o filho para resolver algum questionamento citado acima, porém percebi depois que era no sentido de que a mãe PRECISA falar sobre o Kevin, ela tem essa necessidade acima do que ele fez. Como se para desabafar. (Eu meio que tenho essa incrível capacidade de SEMPRE interpretar títulos de forma diferente do que de fato querem dizer.)


Em forma de cartas, Eva conta sua vida, começa com seu casamento perfeito com Franklin, sua incrível empresa dando super certo e sua casa maravilhosa. Até que Eva engravida, o que deixa Franklin muito feliz. Ela fica confusa sobre seus sentimentos e não sabe se deseja de fato o filho.


Em toda sua gestação ela não conseguia se sentir "satisfeita" ou até mesmo feliz com a criança que iria ter que amar. 



Quando Kevin nasce, sua mãe, que deveria cuidar, acalmar e saber o que ele quer a cada choro, acaba não criando uma ligação com seu filho. Desde sua mais tenra idade, uma criança, para crescer saudável emocionalmente, cria um vínculo com sua mãe, e vê ela como uma pessoa que pode ama-lo e cuida-lo. Na narrativa de Lionel, vemos que essa ligação não é criada, nem desenvolvida. O que prejudica muito na criação de Kevin que chora em todos os momentos. Eva conta que um barulho de uma perfuradora em pleno serviço era melhor do que o choro agoniado de seu filho. Percebemos desde pequeno, características psicopatas em Kevin, como a manipulação que tinha de seus pais. Com Eva, Kevin era ele mesmo, cruel e destruidor. Para Franklin, Kevin era uma ótima companhia e um menino exemplar, que não apresentava nenhum traço de doença mental. 

E então Kevin vai crescendo e nada melhora, até que a fatídica "quinta-feira" chega e muda tudo. Mesmo que eu tenha visto o filme há anos atras, não lembrava do final, o que me deixou mais curiosa ainda. Com o desfecho da história fico pensativa e me pergunto 'Porque precisamos falar sobre o Kevin?'. Depois de um tempo de reflexão percebi que temos sim que falar sobre isso, pois é um acontecimento que pode ser evitado, precisamos somente nos informar dos sinais que levam a pessoa a ser um sociopata. Imagino que se Eva tivesse buscado ajuda profissional, como um psicologo ou um psicanalista e tivesse tratado esse sentimento de abandono que Kevin tem, o desfecho poderia ser outro. Todo professor, pai, mãe, tios, todos que tem uma criança em casa ou convive muito com eles devem ler esse livro para que possam entender tudo o que se passa na cabeça de uma mãe atordoada com o comportamento de seu filho, e que possa perceber e ajudar o quanto antes crianças e jovens. 

"Antes de ele vir ao mundo, eu estava ocupada demais cuidando de um prospero negócio e de um casamento maravilhoso para me preocupar [...]. Só quando me vi encerrada durante dias a fio numa casa feia com uma criança entediada é que me perguntei para que servia aquilo tudo."


Uma das coisas mais perturbadoras do livro, foi ver a capacidade de uma mãe de não conseguir criar essa simples ligação com seu filho, e que fazemos aquela pergunta cruel 'É possível odiar um filho?' E entra em uma outra questão, a da 'Estou pronta para ser mãe?' 

"Eu nunca havia desejado, de maneira tão plena e consciente, nunca ter parido nosso filho. Naquele instante teria sido capaz de renunciar até mesmo Célia. [...] Desde que era garota, só havia uma coisa que eu tinha desejado, [...] um bom homem que me amasse e que me fosse fiel. Todo o resto era secundário, um bônus [...]. Eu poderia ter vivido sem filhos. "


No livro percebemos momentos em que Eva conta eventos do passado e depois volta para o presente. O que deixa o leitor um pouco confuso no começo, porém quando pegamos o jeito da da narrativa a leitura flui muito bem. Quem está começando a ler e achou o livro "chato" (é possível, pois Lionel enrola bastante em alguns momentos), sugiro que não pare e force um pouco mais, pois com certeza o final vai te surpreender e aterrorizar ao mesmo tempo. A minha edição é da capa/filme, confesso que queria a capa original, porém quando fui comprar só tinha a capa/filme a editora Intrínseca fez um maravilhoso trabalho na capa original do livro.




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